sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CENSO REVELA NOVO PERFIL DA FAMÍLIA BRASILEIRA

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma nova análise dos dados do Censo 2010 que aponta para a mudança no perfil da família brasileira. Os principais indicadores apontam para o crescimento das uniões informais, o aumento da participação feminina no mercado de trabalho e a ampliação no número de separações e divórcios.
Para Barbosa, resultados confirmam alterações iniciadas nas últimas décadas. De acordo com o pesquisador do organismo, Marden Barbosa, os resultados confirmam alterações na estrutura familiar que vêm sendo registradas nas últimas décadas.
“Nesses volumes, foram feitas análises mais detalhadas dos quesitos, incluindo o cruzamento desses temas com outras variáveis investigadas no censo, como rendimento, escolaridade, sexo e idade da população, cor e raça”, aponta.
O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família da CNBB e bispo de Camaçari (BA), dom João Carlos Petrini, considera que essa nova configuração acompanha o que já acontece em países desenvolvidos, refletindo também uma tendência ao individualismo da sociedade moderna.
“Algumas dessas mudanças são positivas e irrenunciáveis, como uma paridade de dignidade e de direitos entre homens e mulheres, uma maior participação do homem e da mulher nas tarefas domésticas, uma postura menos autoritária na educação dos filhos”, destaca.

Menos casamentos e mais separações
Dom Petrini destaca falta de fé como impulsionadora de parte das mudanças. Pouco mais de um terço dos brasileiros que vivem algum tipo de união conjugal não formalizou o casamento, seja no civil, seja no religioso. Já a porcentagem de casamentos caiu de 37% para 34,8%.
Será que os dados podem refletir receio do brasileiro em relação ao casamento? Para dom Petrini, o medo pode determinar muitas decisões, como não conseguir dar conta da responsabilidade assumida, de perder o emprego, de não conseguir sustentar a família ou até mesmo de não ser feliz no casamento.
Mas, o que mais pode determinar esse receio é justamente a ausência de fé. “Creio que, juntamente com esses problemas, falte atualmente a fé como fortaleza que robustece a pessoa e lhe permite enfrentar desafios mesmo grandes, com a confiança de ser acompanhado pelo Pai amoroso e misericordioso”, ressalta.
Por outro lado, dom Petrini menciona uma crise na cooperação entre os sexos e entre gerações, que pode também colaborar para os resultados. De um lado, o contexto social não favorece a família, pois o trabalho absorve a maior parte do tempo do casal, acarretando negativamente no convívio com os filhos. “Por outro lado, diminui a disponibilidade a assumir algum sacrifício para o bem do outro ou do grupo familiar”, completa.

Casais com menos filhos
Os dados também revelam que as mulheres têm cada vez menos filhos e retardam a gravidez o máximo possível. “Além do número de filhos por mulher vir se reduzindo significativamente, esse censo indica um envelhecimento da estrutura da fecundidade”, aponta Barbosa. Além disso, o número de casais sem filhos aumentou de 15% para 20,2%.Se o objetivo do casamento é a formação de uma família com filhos, seria possível dizer que os brasileiros estão se distanciando desse propósito? Para dom Petrini, os resultados refletem o que já ocorreu na Europa, apontando a origem de uma grande crise. “É a crise humana, onde a maior parte das pessoas perdeu o gosto de viver, a alegria de lutar e enfrentar desafios.”Outro aspecto é que o aumento da participação feminina no mercado de trabalho e a priorização da carreira adiam a maternidade. Por isso, é de fundamental importância ao casal conciliar da melhor maneira possível a vida de família e o trabalho. Segundo o bispo, isso exige também políticas públicas que levem a sério as exigências da vida familiar, da educação dos filhos e da importância da maternidade e da paternidade.

Uniões homoafetivas
Pela primeira vez, o censo trouxe uma pergunta sobre uniões entre pessoas do mesmo sexo. Do total de pessoas que disseram ter uniões homoafetivas, 47,4% declarou-se católica e outros 20,4% sem religião. Dom Petrini destaca que a Igreja apresenta a todos os cristãos um Deus compassivo e misericordioso, que ama e perdoa. “Jesus Cristo é o Redentor de todo ser humano, inclusive de quem carrega o ‘fardo’ da homossexualidade”, explica.Nesse sentido, há grande preocupação com a cultura dominante, que pretende dar respostas ao drama dessas pessoas através de medidas políticas e ideológicas. “O tempo de duas ou três gerações dirá quanto os caminhos atualmente incentivados respondem às exigências de felicidade e de bem de cada pessoa”, revela.

Trabalho pró-família
No Brasil, a Igreja tem promovido iniciativas visando o fortalecimento da família. As ações acontecem através da Pastoral Familiar visando a liberdade dos casais diante das modas culturais e dos “modelos” de família apresentados pela cultura contemporânea.O trabalho é difundido pelas chamadas “Escolas de Família”, que incentivam a formação de grupos de vida fraterna, para que cada casal possa contar com a amizade de outros casais no enfrentamento dos desafios.A ideia é buscar um aprofundamento do significado do sacramento do matrimônio como presença de Jesus na vida da família e uma melhor compreensão da extraordinária riqueza que a família constitui para toda a sociedade.

(Por: Deniele Simões - deniele.jornal@editorasantuario.com.br)